Diálogo nacional inclusivo – Papel das clérigas metodistas unidas em moçambique

Painel de líderes femeninos religiosos no diálogo nacional inclusivo. Da Esquerda para a direita: Revᵃ Felicidade Chirinda-Igreja Presbiteriana Reformada, Revᵃ Helena Nussane- Igreja do Nazareno; Aíssa Abdul Carimo- Presidente dos Jovens do Conselho Islâmico, Revᵃ Luísa Quilambo Tsevete- Igreja Metodista Unida Em Moçambique, Brenda Campos e Whitney Sabino- Organização Juvenil de Moçambique. Photo by FDC (Community Development Foundation)
Painel de líderes femeninos religiosos no diálogo nacional inclusivo. Da Esquerda para a direita: Revᵃ Felicidade Chirinda-Igreja Presbiteriana Reformada, Revᵃ Helena Nussane- Igreja do Nazareno; Aíssa Abdul Carimo- Presidente dos Jovens do Conselho Islâmico, Revᵃ Luísa Quilambo Tsevete- Igreja Metodista Unida Em Moçambique, Brenda Campos e Whitney Sabino- Organização Juvenil de Moçambique. Photo by FDC (Community Development Foundation)

Palavras chaves:

  • A unidade na diversidade como apanágio para construção de uma sociedade sã e pacífica.
  • O diálogo nacional como um processo de inclusão, escuta genuína e compromisso com o bem comum.
  • Igreja como um agente que orienta e transforma a sociedade promovendo a justiça, a solidariedade e o desenvolvimento humano.
  • A mulher Clériga como agente mediador do diálogo inclusivo para a paz efectiva em Moçambique.

Em cerimónia muito concorrida por membros do governo, de organizacões da sociedade civil, instituições religiosas, o grupo de Clérigas da Igreja Metodista Unida, representada pela Reva Luísa Quilambo Tsevete fez sábias apresentações em Mesa-Redonda sobre o Papel das do clericado femenino no Diálogo Nacional Inclusivo para fortalecimento da presença e da influência das mulheres nos processos de construção da paz.

A iniciativa foi promovida pela Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) e Fundação MASC, com o apoio da Academia Política da Mulher, reunindo representantes nacionais e regionais da sociedade civil, destacando a importância duma abordagem verdadeiramente inclusiva no processo de Diálogo Nacional, oficialmente lançado pelo Presidente da República de Moçambique Daniel Francisco Chapo.

Na sua intervenção, ela inicia dizendo: “A unidade na diversidade deve ser o apanágio para construção de uma sociedade”.Revᵃ Luisa Quilambo Tsevete prossegue: “Chamados a Mesa Redonda,  perguntamo-nos, o que fazer num encontro sobre o Diálogo Nacional Inclusivo. A resposta encontrada é que estamos perante um chamamento geral da sociedade moçambicana para que esta se envolva activamente no Diálogo Nacional Inclusivo. Entretanto, este é um reconhecimento de que algo deve ser feito, como o primeiro passo para o diálgo - a vontade de dialogar e procurar entendimento.”

A dado passo, Tsevete citou  a Fundação Koffi Annan nos termos seguintes: “O diálogo nacional não é um evento. É um processo que exige inclusão, escuta genuína e compromisso com o bem comum.” Continuou com a sua locução, carregando o sentimento de todas as mulheres Clérigas da Área Conferencial de Moçambique e buscando o entendimento da Palavra: A Bíblia Sagrada na carta do Apóstolo Paulo aos Efésios 4:29 diz:  “E nenhuma palavra torpe saia da vossa boca, mas só a que fôr boa para promover a edificação, para que dê graças aos que ouvem.” Palavras úteis que trazem benefícios aos outros. Jesus Cristo nos ensina ao dizer que muitos são chamados e pouco escolhidos citando Mateus 22:14. Tsevete prosseguiu afirmando: “Para o Diálogo Nacional Inclusivo, alguns foram e serão escolhidos para dinamizar o processo da pacificação do país, mostrando-se activos no processo e dando ânimo, forças e coragem à participação dos cidadãos na sua múltipla diversidade sócio-cultural, religiosa, económica e política, de modo a construir um país e duma nação coesa e de concórdia. O papel da Igreja e sobretudo a Igreja Metodista Unida na sociedade tem sido de orientar, encorajar e engajar na formação de valores éticos, morais e sociais na promoção da justiça social e no serviço de todos, com maior ênfase para os mais desfavorecidos. Na perspectiva social, a Igreja é um agente transformador na sociedade, promovendo a justiça, a equidade, a solidariedade e o desenvolvimento humano. Logo, a Igreja não tem identidade partidária, pois corre o risco de ser instrumentalizada, o que é perigoso e pode se tornar fonte de conflitos. No seu ministério, a Igreja não desafia a quem quer que seja, mas sim, acompanha e participa nos processos, engajando e transformando a sociedade. Muitas vezes promove-se o diálogo depois de extremar de posições, enquanto o ‘monte’ se desmorona. Lamenta-se com muita dor, tristeza e angústia vidas a serem perdidas  por causa do diferendo eleitoral que levou ao exacerbar de ânimos. Oramos pedindo que Deus nos use para aliviar o sofrimento e que isso não aconteça outra vez.”

Reconciliação através do diálogo inclusivo.

Os ganhos pelo diálogo positivo surgem com um sentido patriótico e responsabilidade permanente e acrescida dos moçambicanos, onde este se transforma em parte da nossa cultura, como nosso modus vivendi, para que a função pacificadora seja feita de forma preventiva e inclusiva e não apenas para resolver os conflitos vivos, mas sobretudo para preveni-los. Emprestando as palavras sábias da mamã Dra. Graça Machel  “O diálogo nacional deve ser um espelho onde uma nação vê sem máscaras para decidir que rosto pretende mostrar no futuro”. Este diálogo, nas suas premissas, passa necessariamente pelo envolvimento dos actores ou partes relevantes, bem como pela identificação de assuntos estratégicos e operacionais prioritários de interesse nacional, com a participação de todos na reflexão, plantando o perdão, a fraternidade e serenidade.

O Evangelho de João 8:1-11 retrata o episódio em que os Escribas e Fariseus levaram a Jesus uma mulher apanhada em adultério e perguntaram o que eles deveriam fazer de acordo com a lei de Moisés. Jesus respondeu com a frase: “Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra.” As pessoas abandonaram o lugar. Jesus perguntou onde estavam os acusadores, ela respondeu que ninguém a condenou. Jesus disse vai, nem eu te condeno mas não tornes a pecar.

Tsevete volta realcando sobre a necessidade da paz dizendo: “Precisamos reconhecer a nossa imperfeição e perdoar o próximo, promovendo a justiça. A verdadeira justiça não é a punição, mas sim a oportunidade de mudança e restauração. Logo, Jesus salvou os dois lados. Para a reconciliação, as partes precisam identificar as falhas e empenhar-se na correcção das mesmas. O diálogo deve sempre guiar-se pelo mais elevado interesse do povo através da pacificação e estabilização sustentável da nação moçambicana, promovendo o bem-estar de todos (vida em abundância).  O Diálogo Nacional Inclusivo é algo muito nobre e de interesse da presente e de gerações vindouras”.

O alerta do Chefe de Estado Moçambicano nos termos: “Onde falta escuta, nasce a resistência; onde há exclusão, há convulsão.” – presidencia.gov.mz., lembra-nos de duas vocações que carregamos: a responsabilidade Cristã na reconciliação e o dever constitucional de participação na cidadania. O diálogo permite a Moçambique que possa debater reformas, curar feridas, resolver conflitos e encontrar caminhos de paz, união e projetar o futuro comum. Isso quer dizer que é um momento em que pessoas de todo o país — do governo, dos partidos políticos, das Igrejas, das comunidades e das organizações da sociedade civil — conversando, ouvindo uns aos outros e procurando soluções para os problemas que o país enfrenta. Nesse espaço, todas as vozes contam — especialmente as das mulheres, dos jovens e das comunidades locais, que muitas vezes foram deixadas de lado.

Moçambique somos nós – mulheres de fé, coragem e cidadania!

O Livro de Atos dos Apóstolos relata o episódio da descida do Espírito Santo sobre os homens, iniciando ali a Igreja. A África também estava naquele lugar, pois a Bíblia fala do Egito e da Líbia. O Espírito Santo ilumina, orienta e capacita para o testemunho e a importância da unidade na diversidade.

Tsevete, na voz que representa as Clérigas Metodistas aborda o seu pensamento no seguinte: “Precisamos nos concentrar como comunidades de fé, para que guiados pelo  Espírito Santo ouiçamos, percebamos o clamor do povo e com muito cuidado e mestria sirvamos com amor. Estas consultas públicas são espaços formais de diálogo, onde cada cidadão pode apresentar suas propostas para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Mobilizemos Igrejas, grupos de mulheres e associações locais para participar ativamente das audiências nas províncias, expressando a voz e voto social.Criemos círculos de oração e reflexão, onde possamos discernir a vontade de Deus para o nosso país e fortalecer a nossa fé na caminhada pela justiça e paz. São grupos que funcionam como núcleos de educação ao cidadão e engajamento social, capazes de organizar as comunidades para que as suas demandas cheguem aos órgãos decisores.”

A palavra é um instrumento de reconciliação e comunhão, divulgando as vozes do povo nas praças, nas Igrejas e nos mercados, com o uso de rádios comunitários, mídia local e eventos públicos para amplificar a demanda social, garantir transparência e participação real, criando espaços para ouvir e dar voz às mulheres que não podem comparecer nos encontros formais, relatando para os organizadores do Diálogo.

“A interação entre a Igreja e a Sociedade tem, transmitindo ensinamentos tais como: a Reconciliação (2 Co 5:18), pela construção de consensos- criando círculos de perdão nas audições; a Justiça e dignidade (Is 1:17), pelo respeito dos direitos humanos e igualdade de género- defendendo cotas paritárias; a Diaconia e Serviço (Mc 10:45), através do voluntariado cívico- organizar “tendas de diálogo” nas paróquias; a Misericórdia e escuta (Lc 10:33-37), através da mediação comunitária- formar facilitadoras de paz; são estratégias relevantes ao diálogo”. Realçou a Revᵃ Tsevete, sublinhando a importância das lições bíblicas para a consolidação da paz.

Na perspetiva social, a Igreja é um agente que orienta e transforma a sociedade promovendo a justiça, a solidariedade e o desenvolvimento humano, assegurando que sua presença seja sentida. O Livro de 1 Reis 3:16-28 fala do julgamento de duas mulheres que disputavam a maternidade dum bebé. Que lições tiramos daqui? A sabedoria de Salomão! O sábio percebe sinais e evita, no máximo, que haja situações constrangedoras, apresenta soluções para o bem. “Que a sabedoria que vem do alto, pura e pacífica, nos guie; que a nossa voz, uma só, proclame: ‘Moçambique somos nós – mulheres de fé, coragem e cidadania!”

A Igreja Metodista Unida tem um histórico de atuação significativa na promoção da paz em contextos de conflito, tanto através de ações de apoio humanitário quanto de participação ativa em processos de reconciliação e desenvolvimento. No contexto de Moçambique, por exemplo, a Igreja atuou como mediadora nos Acordos de Paz de Roma em 1992 e no reassentamento de populações deslocadas pela guerra, na transformação de armas em enxadas (programa do Conselho Cristão de Moçambique). Além disso, a Igreja desempenha um papel importante no desenvolvimento social e econômico das comunidades, especialmente em áreas rurais, através da criação de escolas, hospitais e projetos de desenvolvimento. Outras ações incluem: apoio humanitário, provisão de água potável, desenvolvimento comunitário, advocacia por paz e justiça, discernimento e responsabilidade, compromisso com a Justiça Social, diálogo e cooperação.

Ezequiel Nhantumbo é correspondente da UM News na África lusófona, baseado em Maputo

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